sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

VERDADES



Escolhi brincar com verdades,
mas eram cortantes
tal qual diamantes na vidraça da alma.

Mudei,
decidi regar um jardim de nuvens
e alimentar borboletas furtivas
com o néctar dos meus segredos.

Besteira,
bom mesmo é deixar as verdades
forjarem frestas no peito.
Assim as borboletas entram e fazem morada.

NARA RÚBIA RIBEIRO

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

...Talvez...

Talvez
Se o mundo desfocasse
E só se visse a gente
E todas as pessoas que sobrassem fossem meros figurantes
Se a vida decidisse mudar de roteirista
E o gênero trocasse de repente num instante
Quem sabe
A gente
Podia
Ser
Protagonista
Talvez


Clarice Falcão

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

ADENTRA-ME

Planeja o teu caminho dentro em mim
e desenha o teu corpo sobre o meu.

Sussurra em meus ouvidos
palavras indecifráveis aos homens.

Reaviva-me
Em correntezas desprovidas
de pudor ou pecado.

E que o meu peito pulse em ti.

E que o meu dorso, arqueado,
alado esteja
para que viajemos
a caminho do céu.

NARA RÚBIA RIBEIRO

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

NÃO BORBOLETARÁS

Não é certo fazer pacto com borboletas.
Não acho certo.

Deveria ser crime
Prosear com passarinhos
Ou observar detidamente
A gota de orvalho
Em meio às pétalas entreabertas da aurora.


Errado deixar-se atrair por bolhas de sabão.
Obsceno ficar espiando o acasalamento das cores
No alaranjar do crepúsculo.

É cruel observar, inerte,
O trabalho escravo das formigas.

Desumano mesmo é achar
Que pirilampo também é gente.

As leis do Estado
Deveriam tolher um tanto mais
Essa poesia indecorosa das coisas
E condenar à morte os poetas,
Esses deploráveis reinventores
Do vetor das essências.

NARA RÚBIA RIBEIRO

Um breve monologo sobre a mentira e sua escravidão.


A mentira em nada acrescenta a nenhuma relação... ela é venenosa e corroê demasiadamente.
Não há casal que resista a essa idosa... pois o que ela tem como presente é a desmotivação, o rompimento, a negligencia, os desvalor,  a corrupção do genuíno... a possibilidade de ser uma pessoa amada sem tentáculos de miséria é perdida... no meio de afirmações incisivas e sorrisos mascarados...

a resposta da pergunta mais humilde do mundo  (eu posso amar vc?) é não... não pode, pois eu não permito e quero mais ver-lhe longe de mim...

como ousas me pedir para me amar? alguém tão desimportante... alguém que merece o frio da minha velha amiga mentira... (uma querida amiga eu sei que esta velha e cansada, mas esse passarinho merece conhece-la... então trabalhe um pouco mais pra mim...) a resposta é não pássaro do barro... eu te negligencio, pois meu passado vale mais do que você e... então saiba o seu lugar barro voador e voe pra longe de mim... pois o que tenho para lhe oferecer é mentira... e você procura romãs e frutas outras.

Não adianta insistir pássaro manco, sua casa não resistirá... pois minha arma te correr e deixa-te sem teto... deixa-te desesperançoso, deixa-te peregrino sem casa... sem lar... e sem amada... então deixa-me que o que quero é mentir... deixa-me que o que desejo e a voracidade virulenta  da sorte de ser o que não é, sendo esculpido por lagrimas, disfarçando num sorriso e tentando não ser escondido... em ser uma verdade que se esqueceu de acontecer...

Sozinho...


Solidão é quando tudo que fazia sentido passa a ser vislumbrado em uma teia de mentiras e omissões. Nesse momento não existe ao que se apegar... pois viramos insolidos, insólitos e escorremos pelo corpo como chuva desalmada.
O mais paradoxal é que tudo isso nasce do encontro alheio ou do desencontro. Do almoço mentiroso, da tentativa intentada e do caminhar de caranguejo.
Cada vez que isso acontece se perde um pedaço de luz que habita o ser... pois o medo, a desconfiança, a descrença vão se alojando...
deve ser por isso que o mundo está cheio de pessoas que não estão dispostas a amar umas as outras... então ás que estão sofrem... mas acabam aprendendo que nesse mundo não se pode amar... 

(...)



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013


{}


Nem mesmo a esponja mais dura da dor
ou o corte mais profundo da indiferença
será capaz de ferir o meu sonho.
A estrutura do que sinto,
na essência do que sou,
é de blindagem puríssima.

NARA RÚBIA RIBEIRO

Solidão líquida



...(nomaR)


inocência e alegria líquidas


Meteoritos líquidos



terça-feira, 3 de dezembro de 2013

É sempre demais até para as lágrimas

Nosso corpo padece desta doença: o amor.
Seu limite não é a pele. Ele contém o universo inteiro.
Dizia Pablo Neruda: “Sou onívoro de sentimentos, de seres... Comeria toda a terra.Beberia todo o mar.”
E o nosso sofrimento tem a ver justamente com isto:
que gostaríamos, como uma mãe, de acolher, proteger, acalentar tudo o que existe. E é por isto que o destino de um pássaro perdido, de uma gaivota coberta de óleo,de uma árvore que geme consumida pela queimada, são tragédias internas, que
fazem nosso corpo estremecer e chorar.

Pensei estas coisas depois de ter tentado aprender com os animais e com as plantas o segredo da sua tranqüilidade.
E concluí que esta é uma lição que nos está vedado aprender.
Nunca poderemos participar da sua felicidade. Para sermos tranqüilos como bichos e árvores, seria necessário que não tivéssemos coração. Estamos condenados ao sofrimento porque estamos condenados ao amor. Nas palavras de Wordsworth, “graças ao coração humano que nos faz viver,/ graças à sua ternura,alegrias e temores,/ a mais singela flor que o vento sopra/ faz-me pensar pensamentos profundos demais até para
as lágrimas.”

Este é o preço que se paga por se ter dentro de um corpo tão pequeno um coração que abraça um universo tão grande.

Rubem Alves