terça-feira, 3 de dezembro de 2013

É sempre demais até para as lágrimas

Nosso corpo padece desta doença: o amor.
Seu limite não é a pele. Ele contém o universo inteiro.
Dizia Pablo Neruda: “Sou onívoro de sentimentos, de seres... Comeria toda a terra.Beberia todo o mar.”
E o nosso sofrimento tem a ver justamente com isto:
que gostaríamos, como uma mãe, de acolher, proteger, acalentar tudo o que existe. E é por isto que o destino de um pássaro perdido, de uma gaivota coberta de óleo,de uma árvore que geme consumida pela queimada, são tragédias internas, que
fazem nosso corpo estremecer e chorar.

Pensei estas coisas depois de ter tentado aprender com os animais e com as plantas o segredo da sua tranqüilidade.
E concluí que esta é uma lição que nos está vedado aprender.
Nunca poderemos participar da sua felicidade. Para sermos tranqüilos como bichos e árvores, seria necessário que não tivéssemos coração. Estamos condenados ao sofrimento porque estamos condenados ao amor. Nas palavras de Wordsworth, “graças ao coração humano que nos faz viver,/ graças à sua ternura,alegrias e temores,/ a mais singela flor que o vento sopra/ faz-me pensar pensamentos profundos demais até para
as lágrimas.”

Este é o preço que se paga por se ter dentro de um corpo tão pequeno um coração que abraça um universo tão grande.

Rubem Alves

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